Capitulo 52: Asas de Jade

Asas de Jade

O desespero tomava o coração da maga aos poucos enquanto ela juntava o máximo de aliados que podia com o pouco tempo que tinha. Sacrificar vidas para criar magia demoníaca... como ela não tinha pensado nisso antes? É claro que os demônios faziam sacrifícios em seus feitiços mais poderosos, e ela precisava impedir que as forças do rei Molthenos voltassem ao que eram antes. Rápidos como o vento e liderados pela maga excêntrica, os rebeldes avançaram pelas ruas, leves e prontos para o combate enquanto atacavam os portões do castelo com facilidade.
O rei e suas tropas não esperavam um contra ataque dos rebeldes tão cedo, e apesar de suas forças combinadas com o poder dos seres do inferno, a quantidade de rebeldes e suas estratégias de combate foram mais que suficiente para abrir caminho castelo adentro. Na frente de todos, Lillian disparava seus feitiços de vento, cortando caminho quase que literalmente e chegando ao salão principal, onde os soldados já haviam sacrificado várias pessoas. Na pilha de corpos, Lillian não encontrou ninguém conhecido, mas a quantidade indicava que eles já estavam fazendo sacrifícios bem antes de o rei anunciar seus planos.
A próxima ordem da maga foi que os prisioneiros deveriam ser resgatados o quanto antes enquanto o castelo seria tomado. Ela iria correr atrás do prêmio maior: a cabeça do rei. Lillian correu pelas escadarias e corredores junto com um grupo pequeno de soldados, procurando não apenas pelo rei, mas por qualquer outro soldado demoníaco quer pudesse se esconder ou causar mais problemas.
As paredes do castelo tremiam e o eco de todas as vozes berrando em combate tomava desde o nível mais baixo até o último quarto nas torres. Encontrar o rei não demorou muito pois ele os estava esperando na sala do trono, já com sua espada flamejante em mãos e encarando o pequeno grupo que agora adentrava no salão:

Soldado: Molthenos! Finalmente, você...

Antes do soldado terminar a frase, um jato de fogo foi lançado pela espada do rei e atingiu o homem no rosto, causando um profundo corte flamejante que misturou gritos e sangue com chamas, o fazendo cair no chão, já falecido. Os outros encararam a situação com terror no olhar enquanto o rei amaldiçoado avançava lentamente, pronto para a luta. Lillian era a única que mantinha o olhar sério e fixo no inimigo nesse momento:

Molthenos: Vocês acham mesmo que esse ataque simples e idiota vai mudar alguma coisa? Basta arranjar mais soldados... basta sacrificar mais vidas... aumentei minha força o suficiente para acabar com todos vocês, mas por terem me causado tantos problemas, faço questão de que suas mortes sejam lentas...

Lillian: Afastem-se...

Soldado: M-mas... senhorita, nós...

Lillian: Nenhum de vocês aqui tem chance contra ele...

Soldado: Mas... somos guerreiros, e você é uma maga! Você pode causar mais estrago, mas não vai durar nada se... -Nesse momento, Lillian deu um tapa na testa do soldado.

Lillian: TU ESTÁ DE SACANAGEM COMIGO, SEU MERDA? -berrou ela- Eu estou mandando em vocês já faz tanto tempo e vocês acham mesmo que eu sou fácil assim de derrubar? Agora vai pro canto e pense no que você disse!

Soldado: Para o... canto?

Lillian: SAI DA MERDA DA SALA, RETARDADO!

Molthenos: Hahaha, gosto do seu senso de humor! -disse o rei enquanto os soldados se retiravam- Essa sua alegria seria interessante como uma aliada entre esses muros. O que acha de mudar de lado e me ajudar com...

Mais uma vez, alguém foi interrompido naquela sala, mas dessa vez foi o rei Molthenos quando Lillian deu um disparo de vento forte em seu peito, o empurrando para trás e obrigando o rei a rolar no chão e segurar sua espada com mais força para não perdê-la. Estava claro de que nenhum dos dois tinha paciência para lidar com palavras naquele momento, então já avançando para o evento principal, Molthenos partiu na direção de sua adversária enquanto ela preparava seus feitiços.
Com suas barreiras de vento e seus ataques cortantes, Lillian estava resistindo aos ataques de Molthenos, mas ele tinha sido o primeiro a enfrentá-la e conseguir não só resistir a seus ataques mas também aos poucos enfraquecer suas defesas. Por causa de sua maldição, o rei tinha força e velocidade impressionantes, e por causa de sua maldição, Lillian teria problemas para elevar seu poder além do que já estava usando.
Com todo esse poder, era apenas uma questão de tempo para que o rei conseguisse um corte mais perfeito contra a maga,e  sabendo disso, o homem sorria durante o combate, quase certo de sua vitória. No golpe seguinte, a barreira de vento de Lillian se desfez enquanto ela levava um chute certeiro na barriga e caindo para trás. Rolando para o lado, ela evitou o corte de espada que veio de cima para baixo, mas levou mais um chute que a arremessou alguns metros, de costas na parede. Se levantando rapidamente, as maga teve o tempo de criar uma pequena barreira, que se desfez após o golpe e mais uma vez ela foi arremessada para outra direção.
Ela precisava se recompor pois um corte daquela maldita espada seria doloroso até demais para ela, e o combate estava longe de terminar, pelo menos se ela não conseguisse causar algum dano a mais nele. Apesar da dor que sentia ao elevar demais seu poder, Lillian não viu escolha além de usar feitiços mais elaborados, começando com estouros de ar pelo chão. Assim que deu seu primeiro passo na direção da inimiga, Molthenos foi arremessando com um potente estouro de ar quente em uma parede e viu que a maga já estava preparando mais um feitiço, porém, ele notou nos braços dela as runas vermelhas da magia demoníaca, afinal, o combate causou danos leves em suas roupas, deixando parte da pele marcada a mostra:

Molthenos: HAHAHA, AGORA ENTENDI! -riu ele- Uma amaldiçoada, mas não como nós!

Lillian: Do que está falando?

Molthenos: Suas marcas! Elas são marcas de maldição, mas não de força, e sim de fraqueza! Reconheço elas pois os demônios me ensinaram sobre essas também. Curioso que alguém com ego tão alto seja na verdade tão fraca!

Lillian: Acha que não tenho chance de vencer? -disse ela, irritada.

Molthenos: Uma maga com uma maldição de fraqueza? Não me faça rir. Devia ter se escondido atrás dos soldados que vieram com você.

A resposta de Lillian para as palavras irritantes de Molthenos foi rápida e inesperada. Com um rápido movimento da mão e poucos sussurros, um estouro de vento veio da esquerda para a direita no rosto do homem, mas com uma potência muito maior que as anteriores, o arremessando contra o próprio trono e o quebrando. Em uma pessoa normal, ele tinha certeza que aquilo teria quebrado um pescoço, no mínimo. De onde veio, de repente, todo aquele poder ofensivo? Quando saiu de trás de seu trono quebrado, Molthenos foi recebido com um novo estouro que o empurrou de costas contra a parede enquanto a maga respondia:

Lillian: Sabe, acho que você merece uma rápida lição de magia para entender onde você errou. Maldições de fraqueza não enfraquecem meus feitiços, e sim meu corpo. Ele se torna mais frágil, fácil de danificar quando uso meus feitiços. Quanto mais potente o feitiço, mais dor ele causa em meu próprio corpo, mas até eu desmaiar de dor tem um longo caminho, então, deixe-me te mostrar algo especial.

A pele de Lillian começou a emitir um estranho brilho verde enquanto escamas cristalinas surgiam em seu corpo, começando pelo braço e em volta do rosto, logo tomando boa parte do corpo. Surgiu um par de asas em suas costas, garras em suas mãos, chifres em sua testa e uma longa cauda de serpente:

Lillian: Não costumo mostrar isso a qualquer um pois a dor é irritante demais, mas acredito que seja necessário para essa luta... que isso seja a última coisa que você vai ver em vida...

Molthenos mal podia acreditar em seus olhos quando a maga começou a mudar sua forma e elevar seu poder mágico. Ele podia sentir a energia dela se elevando aos poucos e o chão tremeu de leve enquanto ela preparava seu próximo feitiço. O rei arregalou os olhos e preparou sua espada, ainda surpreso com a cena pois sabia exatamente o que estava acontecendo com Lillian. Não era um feitiço qualquer de transformação ou uma habilidade simples. Era um poder racial, e não qualquer um. De alguma forma, aquela maga a sua frente era uma criatura esquecida pelo mundo a muito tempo atrás, antes do evento do céu vermelho. Uma criatura poderosa, destruidora, que por muito tempo causou o terror nos corações de muita gente e que agora, estava prestes a lutar a sério com ele. Enquanto Lillian deixou escapar pelos lábios e por instinto um rugido potente como o de uma fera, Molthenos só conseguia encarar o vento forte tomando a sala do trono enquanto uma única palavra ecoava em sua mente: "Dragão".